segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O Pastor incansável e bom

Alberto Viana


1. Aproximavam-se de Jesus todos os publicanos e pecadores para o ouvir. 2. E murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo: Este recebe pecadores e come com eles. 3. Então, lhes propôs Jesus esta parábola: 4. Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la? 5. Achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo. 6. E, indo para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. 7. Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." 
Lucas 15.1-7 

Esta parábola é bastante conhecida. Faz parte de um conjunto de parábolas que expressam a misericórdia divina e é considerada "o evangelho no evangelho", justamente porque contém a essência da mensagem da graça e do amor de Deus. 

Quando voltamos os nossos olhos para essa parábola, percebemos que ela surgiu como resposta a uma crítica feita por escribas e fariseus do tempo de Jesus e comum às pessoas daquele tempo. Mas que pode ser, ainda hoje, um tipo de pensamento que causa o distanciamento entre muitas pessoas e Deus. DEUS RECEBE PECADORES E COME COM ELES? 

Para a sociedade do tempo de Jesus Cristo, constituía-se um escândalo a associação de Jesus com pessoas classificadas como pecadoras: publicanos, prostitutas, ladrões, etc. Os religiosos daquela época classificavam essas pessoas como “gente da terra”. Por exemplo, casar uma filha com um dos "da terra" era como entregá-la, atada e impotente, a um leão. 

Também eram estabelecidas normas para lidar com pessoas assim. Quando um homem pertencia à classificação das “pessoas da terra”, não se lhe devia emprestar dinheiro; não se devia levar em consideração suas palavras, por mais interessantes que fossem; não se podia confiar a eles um segredo, pois a língua dessas pessoas era considerada imoral e capaz de levar o assunto à baila; não se podia dar-lhes responsabilidades, porque eram pessoas sem compromissos; não se podia encarregá-las dos recursos para a caridade, pois podiam desviar os recursos para benefício próprio; não se podia acompanhá-las em uma viagem, pois podiam armar uma emboscada e assaltar os que o acompanhavam; não se podia hospedá-las ou recebê-las em casa, pois poderiam cobiçar e furtar o que o anfitrião tinha de valor; não se devia negociar com elas, comprar delas ou vender a elas, pois eram pessoas que não honravam os contratos que faziam. 

Eis um dos motivos porque as autoridades religiosas não gostavam do modo como vivia o mestre de Nazaré: Jesus andava, comia e estava sempre muito perto das “pessoas da terra”. Para mostrar o motivo de sua relação com os pecadores, Jesus pronuncia a parábola da ovelha que se perdeu. 

A parábola nos leva a pensar sobre a função de um pastor de ovelhas na Judéia. Era uma tarefa dura e perigosa. Os pastos eram escassos em uma terra árida e desértica, cheia de colinas e penhascos, além dos predadores que existiam sobre os quais o pastor tinha também muita atenção, pois dormir poderia ser o sinônimo de perder o rebanho. 

O pastor era responsável pessoalmente pelas ovelhas. O Teólogo e escritor Willian Barclay, diz que “quando se perdia uma ovelha, o pastor devia trazer de volta ao menos sua lã para demonstrar como tinha morrido”, porque a maioria dos pastores era apenas responsável pelos rebanhos. As ovelhas não pertenciam a eles, mas pertenciam à comunidade, à aldeia em que viviam. Os recursos que provinham das ovelhas eram para o sustento das famílias do local. Algumas vezes acontecia de uma ovelha se extraviar. Quando isso ocorria, a aldeia era avisada de que um pastor ficou no deserto a procura de uma ovelha que se perdeu, assim toda a aldeia ficava à espera e vigiando. E quando de longe viam o pastor voltando ao lar com a ovelha perdida sobre seus ombros, toda a comunidade gritava de alegria e de gratidão. 

Jesus Cristo usa essa pequena história, a fim de falar sobre a sua missão, como está escrito em Lucas 19.10: “Pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido". Jesus se apresenta como O Pastor Incansável em uma busca diligente pelos homens perdidos, sem direção. O Senhor se mostra como um pastor especialista em rastrear as ovelhas que se extraviaram. Mesmo que a distância delas sejam de quilômetros e quilômetros. Jesus de fato via que sua lida diária era dar a sua vida por suas ovelhas, como afirma em João 10.11: "Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas”. 

Assim, todo aquele que se encontra na condição de afastamento de Deus, por causa do pecado, tem da parte do Bom Pastor a consideração e o amor incondicional e incansável, que por natureza leva o ser humano ao constrangimento e ao arrependimento, assim como Paulo afirma em 2 Coríntios 5.14: “O amor de Cristo nos constrange”. 

Mas a pessoa que não se constrange diante do amor do bom pastor e não se arrepende dos seus pecados, simplesmente ainda não se permitiu ser encontrada. Mas faz questão de permanecer perdida. 

Jesus se dispõe a receber generosamente a todos que o reconhecerem como pastor de suas almas. A estes, o Senhor coloca sobre os próprios ombros, para que não corram o risco de se extraviarem no caminho e para poupá-los do cansaço da viagem, fazendo-os descansar, enquanto os leva a salvos de volta para casa, para a alegria dos céus e da comunidade dos salvos, assim como ele mesmo diz: “haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento!” 

Assim é Jesus: um pastor incansável. Ele não vê limites para estar perto dos humildes de coração. Daqueles que se veem como ovelhas carentes dos braços seguros do Bom Pastor.